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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Vital Santos: de perseguido à homenageado


Olá!

Assistindo a novela “Amor e Revolução” da emissora SBT, percebo o quanto o grupo de teatro da trama é constantemente alvo da repressão do DOI-CODI. Mesmo em meio a uma época onde parte da juventude estava mais preocupada com suas lambretas ou o novo lançamento da Jovem Guarda, muitos resistiam e faziam do teatro a forma mais criativa de protestar contra o Regime Militar.
O teatro de resistência teve seu espaço em Caruaru nos Anos de Chumbo. E um dos maiores percussores dessa via teatral foi o teatrólogo Vital Santos. Ele iniciou sua carreira em Caruaru e em 1966 foi um dos fundadores do Grupo Evolução. Após a peça “Feira de Caruaru”, peça baseada no livro “Terra de Caruaru” de José Condé, fundou o Grupo Feira de Teatro Popular. Segundo conta no livro Memória da Cena Pernambucana 02, de Leidson Ferraz, o grupo tinha como intenção “formar platéias, conscientizar o povo(...)”.

O Grupo Feira, como ficou conhecido, produziu peças que questionavam sempre a história política do país, mesmo em meio a um cenário político que promovia a censura a qualquer oposição ou questionamento. “Rua do Lixo, 24” e “O Sol Feriu a Terra e a Chaga Se Alastrou” mostravam o quanto algumas atitudes políticas se mostravam medíocres. A crítica sempre estava presente nas peças.
Vital relembra alguns momentos quando a censura agiu ferozmente diante da arte do Grupo. Ao se apresentar com a peça “Rua do Lixo,24”, em Brasília, em 1978, viveu alguns momentos de tensão. A peça havia sido quase toda censurada, mesmo esta peça tendo sido escrita dez anos antes da implantação do Golpe Militar. Após a apresentação, um agente da Política Militar intimou Vital a comparecer à Polícia Federal, às 9h do dia seguinte, onde sofreu tortura psicológica.

Em 1975, quando iam apresentar a peça “O Sol Feriu a Terra e a Chaga Se Alastrou” no teatro UFPE, os censores proibiram a peça pouc tempo antes da hora marcada para a apresentação. Em 1976, na I Mostra do Teatro Amador de Pernambuco, no Teatro santa Isabel, os censores só permitiram que “rua do Lixo, 24” fosse apresentada porque era um festival.
A peça “A árvore dos mamulengos” recebeu convite para se apresentar na França, mas o convite teve que ser rejeitado, por se eles viajassem, podiam ser impedidos de regressar.

Mesmo com todos os obstáculos, Vital, junto com o Grupo Feira conseguiu seguir adiante, enriquecendo o cenário teatral de Caruaru e de todo Brasil. Ad provas do sucesso são os prêmios conquistados. Com a peça "Rua do Lixo 24", escrita em 1968, ganhou cinco prêmios no Festival Nacional de Teatro (realizado em 1969) e percorreu o Brasil inteiro. Com a peça "O Auto das Sete Luas de Barro" (uma biografia do ceramista Mestre Vitalino) ganhou vários prêmios, entre os quais o Prêmio Molière; Mambembe; da Associação dos Críticos de Arte de São Paulo e o Prêmio Governador do Estado do Rio de Janeiro. Outra peça ganhadora de vários festivais nacionais de teatro foi "O Sol Feriu a Terra e a Chaga se Alastrou".
Este ano, Vital é um dos homenageados do São João de Caruaru. Parabéns Prefeitura Municipal por reconhecer a grande contribuição que este homem trouxe para Caruaru, não apenas na época da Ditadura Militar.

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